Permacultura Periférica, Decolonial e Feminista: Rumo a um Mundo Sustentável e Inclusivo


A permacultura, enquanto movimento coletivo e planejamento de um território sustentável, tem desafiado paradigmas e inspirado ações em prol de um mundo mais equilibrado e regenerativo desde a década de setenta. No entanto, é fundamental reconhecer que a permacultura tradicional muitas vezes negligenciou a presença dos indivíduos produtores de saber ancestral na exposição de suas contribuições e sabedorias. Os indivíduos pertencentes às culturas periféricas, não ocidentais, já assinalam essa lacuna na práxis permacultural, principalmente quando seus saberes são submetidos a uma abordagem universalista, ocidental que carece de diversidade e inclusão.


O chamado contemporâneo à decolonização do conhecimento e das ações nos convida a repensar essa visão e a valorizar as perspectivas marginalizadas, não só reconhecendo a importância dos saberes ancestrais, mas abrindo espaço para que os indivíduos originários desses saberes protagonizem em corpo, fala e alma nos espaços de formação, de atuação profissional, de visibilidade imagética na cena brasileira da Permacultura. A Permacultura periférica, decolonial e feminista surge, ainda acanhada, como uma resposta a esse desafio, propondo uma abordagem com a cara do Brasil, sendo mais inclusiva, contextualizada e transformadora.


Ao descentralizar o discurso, lugar de saber da permacultura e dar voz e corpo às comunidades periféricas, estamos não apenas enriquecendo nosso repertório de práticas sustentáveis, mas também promovendo a justiça socioeconômica e ambiental. Projetos vinculados às políticas públicas populares ou preferencialmente estabelecidos em comunidades periféricas, integrando os diversos atores - assessores técnicos e os indivíduos apropriados existencialmente dos saberes ancestrais - estabelecendo valor e lugar a humanidade, valorizam o contexto global, sistêmico, criam e recriam a técnica. Essa perspectiva é uma chave para a resiliência individual, comunitária, territorial e mais importante para essa reflexão, é um caminho para que a Permacultura retome a sua relevância, buscando construir coletivamente, na diversidade de corpos, sotaques, biomas, cidades, ações que atendam às diversas realidades para a caminhada rumo a uma humanidade mais justa e harmoniosa.


A permacultura periférica, decolonial e feminista não é apenas uma proposta teórica, mas sim uma chamada à ação. Cabe a cada uma, cada um de nós, enquanto agentes de mudança, adotar uma postura crítica em relação às práticas dominantes e buscar alternativas que promovam a diversidade, a equidade e o cuidado mútuo. Somente assim poderemos construir um futuro sustentável e inclusivo para as gerações presentes e futuras e atuar com a Permacultura na perspectiva real de promoção da cultura da permanência.


Em um mundo marcado por desigualdades e degradação ambiental, a permacultura periférica, decolonial e feminista representa uma filosofia, com método que segue apontando caminhos para a construção de sociedades mais resilientes, justas e regenerativas. É possível aferir ações concretas dessa proposição, em lugares específicos, mas ainda minoritárias. A Bahia destaca-se nessa caminhada com a atuação do Instituto de Permacultura da Bahia, executando papel que transcende a aplicação de técnicas agrícolas sustentáveis; técnicas de saneamento ecológico, de construção com barro, bambu. Ele se entrelaça com a essência da vida comunitária e prioritariamente caminha na implementação de políticas públicas que reforçam a conexão entre o ser humano e a terra. Outra experiência digna de nota é o movimento Permangola idealizado no Kilombo Tenondé pelo Mestre Cobra Mansa, teve o objetivo de integrar a filosofia da Capoeira Angola com a ética e os princípios da permacultura, visou proporcionar o desenvolvimento humano de forma holística, onde corpo, mente, espírito e meio natural estão integrados, mas ao longo do tempo, as inquietações referentes a essa Permacultura, que não reflete a periferia do mundo, mas dela tudo copia, afastou o Kilombo Tenondé dessa proposição de junção.


Há uma percepção de que é chegada a hora de abraçar essa visão e trabalhar juntas, juntos na construção dessa práxis onde a diversidade seja celebrada nos espaços de poder da permacultura brasileira, que a interconexão seja reconhecida na prática, que a cara da permacultura brasileira seja a cara do Brasil e principalmente do território onde ela é aplicada, ovacionada. Que o cuidado com a fonte ancestral do saber seja a base de nossas relações e a presença dessa diversidade seja sentida concretamente. Juntas, juntos podemos transformar a práxis permacultural e moldar um futuro mais responsável com os saberes dos povos, onde a solidariedade estabeleça relações de trocas justas, populares e o chão da permacultura brasileira, sulamericana seja um reflexo da Abya Yala.


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  1. Bateson, G. (1972). Steps to an Ecology of Mind. University of Chicago Press.

  2. Lugones, M. (2010). Toward a Decolonial Feminism. Hypatia, 25(4), 742-759.

  3. Mignolo, W. (2007). Delinking: The Rhetoric of Modernity, the Logic of Coloniality and the Grammar of De-Coloniality. Cultural Studies, 21(2-3), 449-514.


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