Permacultura Periférica, Decolonial e Feminista: Rumo a um Mundo Sustentável e Inclusivo


A permacultura, enquanto movimento de design de um território sustentável, tem desafiado paradigmas e inspirado ações em prol de um mundo mais equilibrado e regenerativo. No entanto, é fundamental reconhecer que a permacultura tradicional muitas vezes negligenciou a presença dos indivíduos, contribuições e sabedorias pertencentes as culturas periféricas, principalmente quando seus saberes são submetidos a uma abordagem universalista, ocidental que carece de diversidade e inclusão.

O chamado à decolonização do conhecimento e das ações nos convida a repensar essa visão e a valorizar as perspectivas marginalizadas, não só reconhecendo a importância dos saberes ancestrais, mas abrindo espaço para que os indivíduos originários desses saberes protagonizem nos espaços de formação, de atuação profissional, de visibilidade imagética na cena brasileira da Permacultura. A Permacultura periférica, decolonial e feminista surge como uma resposta a esse desafio, propondo uma abordagem com a cara do Brasil, e sendo mais inclusiva e transformadora.

Ao descentralizar o discurso da permacultura e dar voz às comunidades periféricas, estamos não apenas enriquecendo nosso repertório de práticas sustentáveis, mas também promovendo a justiça social e ambiental. Projetos vinculados às políticas públicas populares e/ou preferencialmente estabelecidos em comunidades periféricas integram os diversos atores - assessores técnicos e os indivíduos apropriados existencialmente dos saberes ancestrais - estabelecendo valor, lugar a humanidade, valorizando assim o contexto global, sistêmico, que cria e recria a técnica. Essa perspectiva é uma chave para a resiliência individual, comunitária, territorial. É um exemplo dessa abordagem aqui exposta, que busca construir coletivamente, na diversidade de corpos, sotaques, biomas, cidades, um mundo mais justo e harmonioso para todas as formas de vida. A permacultura periférica, decolonial e feminista não é apenas uma proposta teórica, mas sim uma chamada à ação. Cabe a cada uma, cada um de nós, enquanto agentes de mudança, adotar uma postura crítica em relação às práticas dominantes e buscar alternativas que promovam a diversidade, a equidade e o cuidado mútuo. Somente assim poderemos construir um futuro sustentável e inclusivo para as gerações presentes e futuras.

Em um mundo marcado por desigualdades e degradação ambiental, a permacultura periférica, decolonial e feminista representa uma filosofia, com método que segue apontando caminhos para a construção de sociedades mais resilientes, justas e regenerativas. É possível aferir ações concretas em lugares específicos, mas ainda minoritárias. A Bahia destaca-se nessa caminhada com a atuação do Instituto de Permacultura da Bahia, executando papel que transcende a aplicação de técnicas agrícolas sustentáveis; técnicas de saneamento ecológico, de construção com barro, bambu. Ele se entrelaça com a essência da vida comunitária e prioritariamente caminha na implementação de políticas públicas que reforçam a conexão entre o ser humano e a terra. Outra experiência digna de nota é o movimento Permangola realizado anualmente no Kilombo Tenondé pelo Mestre Cobra Mansa, tem o objetivo de integrar a filosofia da Capoeira Angola com a ética e os princípios da permacultura, visando proporcionar o desenvolvimento humano de forma holística, onde corpo, mente, espírito e meio natural estão integrados.

Há uma percepção de que é chegada a hora de abraçar essa visão e trabalhar juntas, juntos na construção de um mundo onde a diversidade seja celebrada nos espaços de poder da permacultura brasileira, que a interconexão seja reconhecida na prática, que a cara da permacultura brasileira seja a cara do Brasil e do território onde ela é aplicada, ovacionada. Que o cuidado com a fonte ancestral do saber seja a base de nossas relações e a presença dessa diversidade seja sentida concretamente. Juntas, juntos podemos transformar o presente e moldar um futuro mais responsável com os saberes dos povos, onde a solidariedade estabeleça relações de trocas justas, populares e o chão da permacultura brasileira, sulamericana seja um reflexo da Abya Yala.

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